quinta-feira, 20 de março de 2014

Aconteceu de verdade. Será?!! Episódio XXVII

Neste episódio Zé Carocinho e Maria Galega relatam como conheceram a Doutrina Santo Daime... Parte I

Nós não éramos os únicos professores forasteiros a lecionar na escola municipal rural Valéria Bispo Sabala. O professor F, lecionava Espanhol e também viera de longe, veio do Peru, mas residia em Cobija-BO há anos.
Professor F era jovem, de média estatura com sorriso simpático e sempre sereno. Nossa amizade se deu facilmente, de maneira espontânea no decorrer do tempo e das atividades escolares. Além de professor era artesão e fabricava panelas de barro, infelizmente a nossa quebrou em uma das viagens que realizamos muito tempo depois.
Na quarta-feira, como toda semana, a tarde tínhamos reunião de planejamento que iniciava sempre após o almoço. Durante o almoço estávamos eu, Maria Galega, professora Xandoca e professor F, entre as conversas relatamos a nossa enorme vontade de conhecer a Doutrina Santo Daime, mas como não conhecíamos ninguém ainda não tivemos coragem de procurar. Professor F nos olhou, esperou terminarmos nossa fala e comentou:
- Eu nasci no Santo Daime. Toda minha família é do Santo Daime. Se vocês quiserem posso levá-los.
- Queremos sim!!! Respondo empolgado.
- Então amanhã confirmo a data com vocês.
- Ótimo.
Maria Galega me olhou e retribuí com um sorriso, pois sabíamos que realizaríamos mais um sonho daqui a poucos dias.
Realmente no dia seguinte professor F nos confirmou a data e reforçou o convite:
- Zé Carocinho?!! Será nesse fim de semana.
- Queres ir?
- Sim! Queremos muito.
- Ótimo. Na sexta-feira vamos direto daqui da escola para a comunidade onde mora a minha família. Fiquem desde hoje sem comer carne vermelha, beber bebida alcoólica e relação sexual. No domingo vocês voltam para casa.
- Certo. Vou comunicar a Maria Galega.
Corri até a sala de aula onde estava Maria Galega e dei as boas novas com todas as instruções. Ficamos super contentes e ansiosos.
Na sexta-feira, lá estávamos com nossa bolsa excedente e ainda no ônibus a caminho da escola uma professora pergunta:
- Para qual colônia vocês vão?
- Dessa vez não será colônia de alunos. Mas só revelaremos na segunda-feira.
Todos riram e protestaram para que revelássemos o nosso destino secreto. Fomos firmes e deixamos todos curiosos.
Ao descermos no centro de Brasiléia professor F nos diz:
- Vamos atravessar para Cobija-BO. A minha moto está lá e já tem um mototáxi esperando. Comeremos quando chegar em casa.
- Vamos.
Trocamos olhares, eu e Maria Galega, pois estávamos com a barriga nas costas, já passava das 13h. Maria Galega sabe como fico quando estou com fome, muito irritado. Mas era um momento de ansiedade e me sentia como uma criança esperando seu presente novo.
Caminhamos até a ponte, atravessamos e quando o professor F nos mostrou a sua moto, ele foi o primeiro a rir e disse:
- Calma! As aparências enganam. Essa moto é pau para toda obra.
- Sim acreditamos e imaginamos!!!
Todos riram.
- Agora quem quer ir comigo?
- Eu vou com o mototáxi. Disse rapidamente a Maria Galega.
Acredito que se arrependera até hoje. O meio de transporte do mototaxista era indecifrável.

Moto do F. Foto: Wander Silva.

Professor F conversa em um tipo de dialeto espanhol com seu amigo e sinaliza para Maria Galega ir com ele. Embarco na moto do professor F no momento que parte seu amigo com a Maria Galega em sua garupa. Mas tenho que descer e empurrar a moto para pegar no tranco e reembarcar com ela em movimento. Quase fomos ao chão, com o impulso e peso do meu corpo, o professor F precisou colocar o pé três vezes no chão para evitar a queda e recuperar o equilíbrio. Tudo isso com muitos risos. Detalhe, na Bolívia não é permitido o uso de capacetes.
Conforme nos distanciávamos do centro de Cobija-BO aumentava minha ansiedade. Por outro lado comecei a ficar preocupado com Maria Galega, naquela altura não tinha mais contato com ela e estava sozinha com um estranho sabe-se onde.
Circulamos por volta de 30 minutos em vias e pinguelas inacreditáveis, onde mal se passava de bicicleta até que chegamos na entrada da comunidade e, nada da Maria Galega. Fiquei apavorado pensando o pior. Que fora raptada pelo estranho.
- Calma Zé Carocinho! Exclamou professor F.
- Maria Galega está bem e deve chegar daqui alguns instantes. É que peguei um atalho.
- Que bom. Respondo desconfiado e tentando me acalmar.
- Pronto Zé Carocinho, lá vem a Maria Galega sã e salva.
Que alívio ver Maria Galega.
- Vamos entrar e comer algo?!!
- Sim, vamos!!!
- Depois mostrarei a comunidade e apresentarei meus familiares e algumas pessoas que estão de passagem.
Havia três pessoas de passagem pela comunidade há dois meses: um argentino, um chileno e um peruano.


Entrada Comunidade. Foto: Wander Silva.




Não percam.
Em breve o próximo episódio Aconteceu de verdade. Será?!!

Abraços, 
Zé Carocinho e Maria Galega

Veja também:
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