domingo, 23 de outubro de 2011

Aconteceu de verdade. Será?!! Episódio III

Neste episódio, Zé Carocinho e Maria Galega relatam as emoções da viagem rumo ao extremo oeste brasileiro...


No dia 02/02/2004 embarcamos às 21:00hs no Terminal Rodoviário Vereador Jamil Josepetti de Maringá-PR, com destino ao Terminal Rodoviário Afonso Amoedo Costa de Rio Branco-AC, a chegada estava prevista para o dia 05/02/2004 às 06:00hs. A partir da imagem dos familiares desfocada por causa das lágrimas que transbordavam dos nossos olhos e a diminuição do campo de visão com a distância que o ônibus ganhava, percebemos que naquele exato momento éramos apenas nós dois. Demos as mãos e em silêncio olhando pela janela até adormecer, ficamos a refletir e ter vários devaneios sobre o que era e o que poderíamos encontrar no Acre.
A primeira parada foi em Rondonópolis-MS, antes houve uma rápida parada no Terminal Rodoviário Vila São Jorge de Presidente Prudente-SP para embarque e desembarque de passageiros, onde embarcou a "Carinha", que o leitor conhecerá em momento adequado. O objetivo daquela parada era para almoçar e utilizar o banheiro inclusive tomar banho se assim desejar. Foi então que descobrimos o quanto era insuficiente o tempo para realizar todas as ações, pois tínhamos apenas 20 minutos em média e só na fila do banheiro (para tomar banho) gastávamos 10 minutos. Eu optei pelo almoço.
Após horas e horas contemplando paisagens constituídas por monoculturas a perder de vista com celeiros de uma empresa multinacional instalados em locais estratégicos às margens da rodovia BR 163, que abre caminho através de enormes retas com tráfego intenso de carretas. Iniciamos o planejamento da nossa próxima parada que seria em Cuiaba-MT para almoçar. Então nosso plano consistia em corrermos literalmente para tomar banho e o primeiro que terminasse providenciaria algo para comermos durante a viagem. A nosso ver, apesar de ser apenas um filete d'água menor que o dedo mindinho que caia por um cano, mesmo assim foi a melhor decisão tomada, pois estava um calor infernal.
No retorno ao ônibus uma jovem inicia conversa:
- Vocês trabalham com Educação Física?
Pois a Maria Galega estava com uma calça de capoeira e regata. Eu estava com calça de moletom e camiseta, por ser mais confortável usamos esse tipo de roupa durante toda a viagem.
- Não. Mas somos da área da Educação.
- Vocês vão para onde?
- Para Rio Branco realizar um concurso público.
- Eu moro em Rio Branco. Me chamo Carinha, sou de Colina-SP, mas moro em Rio Branco há alguns anos com o meu esposo o Carinha.
- Somos Maria Galega e Zé Carocinho. Estamos vindo de Maringá-PR para realizar o concurso público e conhecer o Acre.
- Que bom! Se precisarem de algo teremos prazer em sermos uteis.
E foram mais do que uteis.
Durante a viagem conversamos bastantes, com vários passageiros que embarcavam e desembarcavam pelas cidades que passávamos. A cada contato uma nova experiência, um novo conhecimento, novas informações - às vezes contraditórias - mas sempre ouvíamos com toda atenção, curiosidade e respeito. Pois tudo era novidade e a cada conversa com descobertas incríveis de dialetos, expressões, alimentos, ou seja, toda uma gama de informações sobre essas regiões e como as pessoas viviam. Sempre observávamos a organização dos passageiros em relação à bagagem (quantidade de volumes e o que eles transportavam), pois tínhamos interesse nessas informações. Também anotávamos as cidades que mais chamavam atenção para possível visita (o que até hoje não aconteceu).
Em Porto Velho-RO foi necessário trocar de ônibus, permanecendo em média duas horas no Terminal Rodoviário.  Logo no desembarque fomos abordados por jovens disputando nossas bagagens, um puxando de um lado o outro colocando em enormes carros de ferro. O que chamou a nossa atenção foi a quantidade de bagagem e a infinidade de objetos transportadas pelos passageiros (colchão, berço, fogão, bicicleta, caixas e sacos de todos os tamanhos). Ao fundo havia um senhor com uma prancheta nas mãos aos berros "saída para Manaus de barco daqui a meia hora". Confesso que tivemos grande vontade de embarcar nesse barco. Após passar a euforia das novidades de Porto Velho, aproveitamos para tomar banho, nos alimentar e descansar até a saída do nosso ônibus.
Na noite de quarta-feira fomos acordados pelo motorista, pois todos os passageiros deveriam descer. De início ficamos apreensivos, mas logo após a descida fomos informados que isso era apenas uma medida de segurança, para embarcamos na balsa sobre o rio Madeira. A travessia durou aproximadamente 15 minutos, dos quais foram emocionantes pelos relatos dos funcionários das empresas de ônibus, da balsa e diversos passageiros e motoristas que contavam empolgados os desastres ocorridos nesta balsa. Aumentando o nosso medo e transformando esse momento interminável.
Após cruzar todo o estado de Rondônia e parte do Acre, o que nos chamou atenção foi a atividade predominante às margens da rodovia BR 364, pecuária extensiva, raramente com a presença de alguma "mancha" de mata ao fundo.
Ao completarmos 57 horas ininterruptas de viagem e presenciarmos a troca de seis motoristas (o ônibus circulava dia e noite) e passar por seis estados brasileiros. Sentíamos exageradamente entorpecidos de cansaço, dores no corpo, medo, ansiedade, curiosidade e confusos pela troca de fuso horário.
No momento do desembarque, o Terminal Rodoviário estava praticamente vazio apenas alguns transeuntes (prostitutas, bebuns e taxistas) respectivamente, além da forte chuva.
A Carinha nos chama:
- Este é o meu esposo.
- Prazer! Sou Carinha.
- Prazer! Somos Zé Carocinho e Maria Galega.
- Infelizmente não poderei levá-los, pois não tem espaço suficiente no automóvel. Mas anote o nosso número de telefone. Precisando é só ligar. Melhor nos ligue amanhã para sairmos e apresentar a cidade.
- Muito obrigado.
O casal simpático nos deu informações sobre o hotel que ficaríamos, nos orientou sobre o táxi e o possível valor da corrida.
Então seguimos para o hotel embalados pelo som da chuva que preenchia o silêncio no interior do veículo.

 Mapa da  rota  realizada pela empresa de ônibus.

Não percam.
Em breve o próximo episódio Aconteceu de verdade. Será?!!

Abraços,
Zé Carocinho e Maria Galega