terça-feira, 24 de abril de 2012

PARA QUE SERVEM AS ESCOLAS DE CINEMA?!

Como sempre, Maurice Capovilla, provoca-nos e nos faz refletir sobre a importância da linguagem audiovisual na formação de um cidadão atuante e crítico, a partir das escolas de cinema. 


Por Maurice Capovilla

O que se pergunta hoje é: para que servem as escolas de cinema no Brasil? Elas estão incorporadas a algum projeto audiovisual para o país? Elas estão gerando algum pensamento teórico capaz de refletir a realidade cultural do momento? Estão atualizadas ou defasadas em relação às transformações tecnológicas, estéticas, econômicas? Estão sabendo o que se passa no mundo? Estão preparadas para trabalhar com independência e auto suficiência diante da complexidade da produção e consumo da linguagem audiovisual globalizada? Estão encarando a imagem e o som como instrumentos fundamentais do moderno conhecimento? Estão atentando para essa linguagem que hoje permeia toda a vida social? Estão considerando o aluno como protagonista principal de todo o processo pedagógico? E qual o perfil desse aluno que sai de uma escola de cinema? Será um realizador? Um pesquisador? Um crítico? Um teórico? Um professor? Ele está pronto, capacitado, preparado para enfrentar a dura competição e a responsabilidade social de um trabalho cujos pré-requisitos são: poder criador, competência técnica, domínio das linguagens, informação histórica, formação teórica e conhecimento abrangente das artes e seus ofícios? Falo das poucas escolas regulares, públicas e particulares que existem no país. São perguntas que precisam ser respondidas.
No âmago dessas preocupações fundou-se em Rio Branco uma Escola de Cinema dentro do Núcleo de Produção Digital, órgão criado, durante pelo Programa Olhar Brasil da Secretaria do Audiovisual do MinC. Mas antes de tudo é preciso dizer que esse projeto está inserido na Usina de Arte do Acre.
A Usina surge em abril de 2006 pela iniciativa do Governo do Estado para ser um agente transformador de uma realidade regional e com a finalidade de preparar com eficiência os criadores de objetos culturais e expandir o conhecimento das artes, das técnicas e dos ofícios indispensáveis à convivência social. Definiu-se a Usina como uma “escola múltipla de artes”, inserida no contexto geopolítico de um mundo bipartido entre globalismos e regionalismos, entre sistemas transnacionais de poder militar, econômico e político e regimes de países e estados emergentes que lutam para preservar a nacionalidade, a cultura e a identidade de seus povos. Um mundo cuja marca registrada de sobrevivência, em meio à diversidade, deveria ser a interação das raízes históricas e culturais tradicionais com os meios mais sofisticados de informação e comunicação. 
Uma escola não é algo se crie de uma hora para outra e com facilidade. E uma escola múltipla de arte, que abrigaria o teatro, a música, o cinema e as artes visuais, muito mais difícil. De início cogitou-se uma escola de comunicação. Depois de algum tempo, uma escola técnica. As propostas iam sendo processadas na difícil tarefa de encontrar-se um foco, uma definição de princípios, um modelo que finalmente se transformou na Usina de Arte.
O cinema encontrou o seu caminho quando a Secretaria do Audiovisual do MinC, na gestão de Orlando Senna, prevendo a inserção das novas tecnologias de alta definição nas comunicações, lançou em maio de 2005, o edital do Programa Olhar Brasil e em março de 2006 o Acre foi selecionado para compor a rede dos Núcleos de Produção Digital a serem implantados no país. A partir daí nasce o Curso de Cinema e Vídeo da Usina de Arte.
O Núcleo de Produção Digital foi o ponto de partida para se criar a escola. Sabe-se que para cada situação deve haver um modelo de formação. O Acre, naquele momento, carecia de projetos, tecnologia e realizadores. Fundamentou-se então a escola com o objetivo de formar realizadores polivalentes, capazes de produzir bens culturais nas três áreas fundamentais do audiovisual, que são o cinema, o vídeo e a televisão. Para tanto foi preciso pensar um Curso que visasse a formação integral do estudante, mas tendo como princípio a criatividade. E em segundo lugar montar uma estrutura técnica, um centro de produção digital de última geração.
Partiu-se também da ideia de que o conhecimento do mundo moderno transmite-se através de linguagens, códigos e tecnologias que tem como suporte básico a imagem e o som. O curso de cinema portanto foi desenhado para ser uma oficina de pesquisa, sempre voltada para a prática, visando abrir espaço para uma nova geração de jovens que estão se formando como realizadores capazes de manejar, com estilo pessoal, as várias linguagens artísticas audiovisuais e com domínio das novas tecnologias que são as ferramentas de expressão do nosso tempo.
O Curso de Cinema e Vídeo da Usina de Arte realizou um conjunto de oficinas de formação que abarcou as etapas teóricas, técnicas e práticas da realização e no conjunto dos cursos houve uma produção de mais de 40 títulos de vídeos de variadas durações e conteúdos. O importante é que promoveu a capacitação de jovens que estão aptos a criar e produzir os bens culturais audiovisuais que o Acre necessita.

Gravação Reza a Lenda. Foto: Wander Silva.

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